Mestre Renata Balestrini
Mestre em Kung Fu Hung Gar 4 grau
Discípula do Grandioso Mestre Li Hong Ki
Presidente da Associação Punhos Unidos.
Comecei a treinar, primeiramente Caratê, aos 6 anos de idade, por influência do meu pai, depois quando visitava uma outra academia com minha mãe, aos 8 anos, conheci o kung fu, desde então me dedico a arte. Meus pais são budistas, por conta disso sou Fukushi (pessoa nascida dentro do budismo), penso que toda essa carga oriental dentro de casa também foi uma influência para que eu iniciasse na arte.
Como foi se tornar Discípula do grandioso Mestre Li Hon Ki aos 14 aninhos de idade?
No início eu treinava com um aluno dele, dos oito aos quatorze anos, observava que o mestre sempre estava por lá, mas nunca havia falado com ele, achava que ele nem me conhecia, porém, quando cheguei em uma fase um pouco mais avançada, passei a treinar diretamente com ele. Eu o conhecia e o admirava muito, por isso, para mim, até hoje, mesmo depois de 20 anos, ainda é uma honra poder ser discípula dele. Apesar de ser muitas vezes, um tanto quanto, dolorido, pois os treinos do mestre são extremamente pesados e tradicionais, com horas de repetição sistemática. mesmo assim, poder aprender o real kung fu Hung Gar , não tem preço.
Em 1999 você foi á Pequim, conte-nos a experiência:
Beijing nessa época era um tanto quanto fechada para turistas, o povo ainda não era muito acostumado com toda essa influência externa, por conta disso, senti num primeiro momento, toda a carga de ser um "rosto diferente" na multidão. Eu tive a sorte de conhecer, não somente a China para turistas, mas uma China "real", passei por lugares onde somente um chinês residente poderia indicar. Por conta disso, minha primeira experiência por lá foi enriquecedora em diversos aspectos. Pude vivenciar o dia a dia do povo. Conheci pessoas, outros mestres de outros estilos, conheci pessoas que não eram mestres, mas me ensinaram muitas coisas. Tenho a sorte de ser discípula de um mestre estudioso e interessado, por conta disso aprendi a como tirar "lições" de todas as situações em que somos colocados. O mais prazeroso foi o conhecimento que pude trazer e as experiências que pude dividir quando retornei.
No mesmo ano, Foi convidada á fazer uma demonstração de espada na mais importante festa anual de Lam Jo, que conta com a presença de representantes de mais de 30 países, como foi sua reação ao receber o convite?
Nessa primeira visita a China, fui para treinar na escola de Lam Cho ( Grão mestre do estilo Hung Gar de kung fu), hoje já falecido, porém uma lenda do kung fu. Em dois meses de treinamento, para aprendizado de técnicas e filosofia,uma das técnicas que pude aprender foi esse Tao Lu de espada reta. De inicio eu havia ido para a China apenas para treinar, porém, depois que aprendi esse Tao Lu, o filho mais novo de Lam Cho, (mestre Lam Chun Sing) me fez o convite para apresentar na festa. Num primeiro momento senti um "frio na espinha" pois uma coisa é você fazer demonstração de formas aqui no ocidente, onde muitos não entendem nada, verdadeiramente, de kung fu, e o publico não sabe se você errou ou não, por conta disso pode improvisar.
Outra coisa é você fazer uma demonstração para aqueles que dominam a arte, que entendem os ciclos dos Tao Lus e a maneira correta de cada movimento, pessoas que tem mais de 40 anos de treino.
Apesar de muito nervosa e receosa, fiz o meu melhor, e no final recebi de presente a espada que haviam me emprestado para fazer a demonstração.
Já passei por muita coisa, mas esse primeiro contato com esses mestres conceituados, foi sem dúvida um dos melhores momentos da minha vida.
Raramente no Brasil vemos mulheres demonstrando técnicas de Chi Kung, porque será?
Bem, não sei responder essa pergunta em relação a todas as mulheres que praticam Chi Kung, por conta disso falarei somente por mim.
Na China, ou dentro do estilo Hung Gar de kung fu, aprendi que o trabalho respiratório, dentro dos taolus de Hung Gar, são para fortalecimento interno do corpo, por conta disso melhoramos desempenho nos combates, triplicamos a força do corpo, ficamos mais resistentes e todas os outros benefícios que a prática do Chi Kung nos traz.
Quando comecei a aprender o Linha de Ferro "Tid Sin kune", perguntei a meu mestre se o treinamento era igual para homens e mulheres, ele respondeu:
" Sim, pois homens e mulheres tem pulmão, rins, coração, fígado e baço."
Meu mestre me ensinou que as apresentações de Chi Kung, onde se faz quebramentos e essas coisas são "truques" de fortalecimento para atrair público. E realmente, na China ,assim são, e o mais interessante é que as pessoas sabem disso por lá.
São demonstrações "legais" de se ver, mas não servem para nada, por conta disso, não perco meu tempo com isso. Prefiro mostrar meu Chi Kung nas lutas. Quanto as outras mulheres não sei dizer.
No Final de 2010 a Mestre Visitou o sonho de Qualquer Kungfuísta o Famoso Templo Shaolin na cidade de Zhengzhou, a Mestre além de visitar também competiu em um festival de Wushu, conte-nos a experiência de estar no Templo Shaolin e além do mais competir:
Eu nunca fui muito de competir com meus taolus, pois como disse na resposta anterior, a linhagem de Hung Gar a qual faço parte é muito tradicional e voltado para as lutas, os tao lus nos fazem melhorar nos combates, não são taolus de competição, apesar de serem muito bonitos.
Num primeiro momento eu nem estava sabendo da visita ao templo, meu mestre me pediu para representa-lo nesse evento, pois seu amigo o havia convidado e ele não poderia estar presente, mas eu deveria ir representar seu nome. Levei um discípulo meu comigo. Como não havia categoria de lutas para mulheres, estão tive que fazer taolu.
Até que nos saímos bem, meu aluno e eu. Consegui um terceiro lugar no ranking geral do evento e meu aluno conquistou o segundo, ficando atrás apenas dos chineses e dos franceses. Ficamos sabendo da visita ao templo, já na China.
O templo shaolin é sem dúvida maravilhoso, sua grandiosidade e energia estão presentes em todos os pavilhões.
Para amantes do kung fu, não tem preço ,poder ver tudo o que normalmente só escutamos em histórias e lendas. O berço do kung fu carrega dentro de sí uma energia incrível.
Como é ser representante do grandioso Mestre Li Hon Ki em nosso país?
Para mim, uma honra poder representar o kung fu desse grande homem. O mestre é de poucas palavras, não gosta muito de aparecer, aprendi nesses anos todos a lidar com o jeito dele. Sinceramente, para mim, mestre Li Hon Ki é o verdadeiro tigre, digo isso, porque o mesmo não esta interessado em público, status, nem nada dessas coisas, ele sempre quer que você aprenda e repasse da forma mais correta e tradicional possível. Mestre Li Hon ki sempre foi um exímio lutador, dentro da escola de Lam Cho fazia parte da equipe de luta, que naquela época não era uma simples equipe de competição e sim uma equipe de proteção da escola e do bairro. Por conta disso eu e todos os seus alunos mais antigos, nos voltamos muito mais para o aperfeiçoamento de nossas técnicas de luta.
O mestre, hoje, para mim e meus discípulos é a maior referência de como realmente "ser" um mestre.
Penso que ainda há muito preconceito nesse sentido, apesar de ter melhorado bastante, tenho a plena consciência de que trabalho com arte marcial que teoricamente seria do universo masculino. Mas aos poucos, as próprias mulheres estão mudando o pensamento e entendendo que kung fu é muito mais "jeito" do que força. Na China, é muito mais comum mulheres mestres de arte marcial. Trata-se mais de uma condição cultural do que de competência.
Tive que lutar muito para poder ter meus primeiros alunos e mostrar que meu kung fu tem qualidade. Hoje não preciso mais, meus discípulos fazem isso por mim.
Quais estilos são lecionados na Associação Punhos Unidos?
Apenas Hung gar
Conte-nos um pouco sobre o Lançamento do Livro do Hung Gar:
Esse livro é uma grande conquista para nosso estilo, pois no Brasil, não há muito material referente ao Hung Gar.
Tive que condensar muita coisa para poder inferir o "mais importante" dentro de 150 páginas, que foi o limite de páginas passado pela editora. Mesmo assim o livro contém aspectos importantes de nosso estilo.
Dividido em quatro capítulos pude mostrar um pouco sobre o estilo Hung Gar, aspectos sobre liderança, motivação e objetivos, algumas de minhas experiências na China e com o Mestre e depoimentos de meus discípulos. O mais importante é que não se trata de mais um daqueles livros comerciais sem conteúdo sobre arte marcial, trata-se de um livro de experiências.
Tudo o que faço em minha vida hoje é em prol de meus filhos "discípulos" e de minha escola. A ideia do livro foi um pedido de meus alunos para que eu deixasse também minha contribuição dentro da arte. O Lançamento oficial será no dia 10 de novembro em Londrina e depois São Paulo e desde já convido-os a conhecerem nosso trabalho.
Deixe um recado aos nossos leitores:
No oriente, a palavra de ordem é: "movimento" por conta disso, independente do estilo de kung fu ou da arte marcial que cada um pratica, lembrem-se que o corpo humano foi "feito" para o movimento, por isso pratiquem! movimentem-se!
e a frase que costumo dizer para todos os meus filhos, durante o dia a dia deles, quando esta tudo muito intenso e corrido no trabalho, escola, ou em casa é:
"Não se esqueçam de respirar"
Fantastico!
ResponderExcluirParabéns Mestre! - Sidai Elizeu Vital
ResponderExcluirAdorei a entrevista, muito boa!
ResponderExcluirMoro em Salvador - Bahia, onde vou poder adquirir esse livro?
https://www.facebook.com/hunggar.renatabalestrini
ExcluirParabéns à Mestra Renata Balestrini, que não conheço pessoalmente, pela entrevista. Muito sensata e equilibrada, mostrando que profissionalismo pode ser feito sem abandonar a garra e o espírito de luta próprios da atleta.
ResponderExcluirIdentifiquei-me muito com a descrição pela por ela de nosso mestre. Muito bom saber que há um livro sobre Hung Gar no mercado brasileiro, e a capa é simplesmente linda.
By the way...como podemos adquirir o livro?
Abraço,
SiFu Marcos Abreu
https://www.facebook.com/hunggar.renatabalestrini
ExcluirEssa professora é linda e da para perceber que ama a arte.
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