10 de out. de 2012

Entrevista com Sifu Marcos de Abreu

Sifu Marcos de Abreu



Professor de Educação Física
Autor do Livro "Kung Fu Wing Chun"
Mestre de Wing Chun
Discípulo do Grande Mestre Li Hon Ki
Estudante do método Applied Wing Chun



·        1. Porque escolheu o Wing Chun como sua arte Mãe?
SiFu Marcos – Eu comecei nas artes marciais muito cedo, aos cinco anos já praticava Judô, mas durante a adolescência eu era praticante de karatê e havia lido um livro do escritor Marco Natali chamado O Kung Fu de Bruce Lee, ficando, é claro, muito impressionado. Aos doze anos, com um corpo ainda muito franzino, meus braços ficavam ralados e machucados quando eu enfrentava em combate meus colegas mais velhos e fortes. Talvez por querer uma saída mais fácil, talvez por não haver entendido a técnica, eu pensava cada vez mais nas idéias de Bruce Lee, que originalmente era um lutador de Wing Chun antes de criar o Jeet Kune Do.
Um dia, ao enfrentar um faixa-roxa muito bom, ao invés de bloquear e contra-atacar (e novamente ferrar meus braços fracos) eu dei um passo para o lado desferindo um soco meio que imitando uma técnica vista naquele livro. Não foi intencional, mas aquele soco leve partiu os lábios do colega, colocando-o fora de combate.
Bem, seja como for, depois disso fui derrotado numa briga de rua por um marginal que era muito forte e mais velho, e aquilo me fez achar que o Karatê não servia para eu enfrentar alguém mais forte, eu me sentia inseguro para andar na rua. Meses depois conheci um colega de Liceu Salesiano que praticava o Wing Chun, e eu achei que havia encontrado a solução para todos os meus problemas. Evidentemente, as coisas não são assim tão simples, mas é exatamente assim que o wing chun é vendido até hoje, da mesma forma como eram quase todos os estilos do sul da China cem anos atrás, como algo superior.
  
·      2. Como funciona a graduação no Wing Chun?
   SiFu Marcos - Não existe graduação originalmente no Wing Chun, uma vez que nossos antepassados tinham de manter suas habilidades em segredo por conta da perseguição nos anos duros da Dinastia Ching. O que existe vivência. Você deve observar, vivenciar e “esquecer”, ou seja, a arte se torna parte de você. Vivenciamos as seis fases e cinco conteúdos técnicos originais do treinamento, cada uma nomeada pela forma correspondente, sendo que cada conteúdo representa um elemento da natureza na fenomenologia chinesa. São sempre as mesmas técnicas vistas de um enfoque diferente, não existe técnica superior à outra. Atualmente, cada escola escolhe seus métodos, uns colocam faixas e exames, outras, não.
    No Wing Chun as coisas são mais sutis...Você chega a meu Koon de Wing Chun e não conseguirá distinguir quem é avançado ou não porque normalmente não verá uma faixa pendurada na cintura de ninguém. Acho que isso tem um simbolismo muito forte e mostra que a verdade está escondida nas entrelinhas. O sistema japonês de faixas, entretanto, é mais prático, e por vezes mais transparente, por isso acho que o Wing Chun também não seja pra todo mundo, porque exige uma grande disciplina pessoal, ninguém irá lhe puxar. Metades das coisas em nossa luta são ensinadas, mas a outra metade você deverá descobrir sozinho. Por isso, não é preciso ser forte ou ter habilidade para lutar wing chun, mas você tem de ser inteligente e perspicaz, caso contrário não terá sucesso na prática. 

·        3. Como é sua relação com seu SIFU ( Mestre )?
SiFu Marcos - SiFu, em cantonês, significa instrutor, alguém que te ensina um ofício, mas também pode ser traduzido como Mestre-Pai, e é exatamente isso que define minha relação com ele, independente de qualquer outra coisa. Ele me aceitou com seu aluno privativo e treinei com ele durante muitos anos, e, depois que completei o sistema em 2006, ele me deu um caminho para eu construir meu próprio Wing Chun, e hoje sou orientado por seu mestre Duncan Leung e outros de seus discípulos mais na ativa, e a ele devo muito do que sou, no Wing Chun e na vida, de forma que eu sempre tento estar próximo dele, mas é difícil porque já faz muitos anos que não treino sob sua orientação direta, ele mora no sul então isso só acontece quando seus alunos mais próximos fazem seminários aqui em Salvador, então nessas ocasiões gosto muito de encontra-lo em seu hotel para conversar ou treinar junto e dar suporte aos mais novos nos seminários. É sempre uma alegria rever SiFu. Tenho dois projetos com mestre Li Hon Ki no momento, um livro e viagem à China ano que vem.

·      4. Como funciona o ensino do Wing Chun em seu Mo Kwun (Ginásio Marcial)?
Sifu ao lado de seus Discípulos
      SiFu Marcos – Meu Mo Kwun é provavelmente o lugar onde mais me sinto à vontade e feliz depois de minha casa, com minha mulher e meus filhos. Quando tenho algum aluno mais avançado na cidade, chego algumas horas antes para treinarmos; saímos para uma corrida, depois treinamos duro no Tire Jong, treinamos algumas seqüências de ataque, depois vamos para os rounds de manopla e algum sparring, fechando com o treino de alguns drills tradicionais para fortalecer o espírito. Aí preparamos uma refeição, tomamos um café ou chá, e vamos varrer a academia, limpar o banheiro, e deixar tudo em ordem para a chegada dos iniciantes, que não raro chegam mais cedo e ceiam com a gente, enquanto falamos da vida ou esclareço algum ponto técnico.
      Gosto de estimular meus alunos avançados a dividirem seu conhecimento com os mais novos, então damos aula juntos, é um ato sagrado de preservação da arte. Treinamos então forma, Chi Sao e Lap Sao, e depois começamos exercícios tradicionais de força, e fazemos uma hora só de drills, ou tradicionais ou adaptados à aplicação esportiva. Costumamos às vezes nos reunir em algum local público para treinar Mai Sang Jong (a luta contra mais de um adversário do sistema) ou algo de Judô ou Wrestling. Meus alunos são meus amigos e costumamos sair uma vez por semana para tomar uma cerveja e ouvir um som underground depois de nos arrebentarmos nos combates. Sou um lutador de Wing Chun e amo o que eu faço.

·        5. Muitos costumam dizer que dentro da ARTE Kung Fu o Estilo Wing Chun é o mais “completo” e eficiente no quesito LUTA, Qual sua opinião sobre isso?
SiFu Marcos - O Wing Chun é uma luta desenvolvida no sul da China. Ponto. Assim como outros estilos dessa região, e está calcado na simplificação de movimentos e grande ênfase na explosão por meio de contra-ataques repentinos. Você tenta potencializar o uso do seu corpo através do uso inteligente da biomecânica corporal, usando o relaxamento mental como método para a utilização das técnicas. Isso tem uma grande influência zen budista. Ela depende muito que o cara venha até você com tudo, como acontece no Aikido, porque, ao menos em tese, eu sou um cara de paz, não quero luta.
Aí vem um mestre inconseqüente e diz que wing chun é uma luta mortal, sem regras, como se fosse algo concebido pelo Espírito Santo, do nada, sem origem histórica, sem especificidade na luta, que derrota qualquer lutador ou estilo, em pleno séc. XXI. Só aceita isso quem abdica do seu direito de racionar por conta própria. Existe aí uma sutil prepotência, uma arrogância, que não se difere muito de um discurso religioso e sectário.
Mas quando você argumenta que não existem resultados efetivos nas competições que provem que o Wing Chun esteja sequer entre as dez lutas eficazes, os praticantes já tem um discurso pronto sobre regras, que num combate “real” tudo é diferente. Concordo, mas, onde isso é está refletido no treinamento? Uma aula de wing chun não é muito diferente de outra luta, você chuta, soca etc. Na maior parte das escolas você é atacado por um lutador de wing chun - que tem um jeito único de socar e chutar - para se testar. As chances de ser agredido por alguém que se mova deste jeito na rua são remotas. Se você não tem nem capacidade para responder ataques convencionais de um esporte de combate, como vai se dar bem na rua?

·   6. Vemos muitas coisas na internet a respeito do aprendizado do Mud Jong, o que o senhor pode nos contar em relação a este aprendizado?
      SiFu Marcos - Talvez pelo fato do boneco de madeira do Wing Chun (Muk Yam Jong) ter um formato que pareça mais um ser humano do que outros aparelhos chineses com a mesma finalidade os praticantes executem as técnicas como se estivem de frente para um homem posicionado apenas “de frente” para eles, o que é um equívoco. Isso quando não trabalham o boneco numa correria, como se fizessem malabarismos. O boneco de madeira é desenhado daquele modo para que o praticante, especialmente o avançado – de wing chun - trabalhe as defesas e ângulos em bases mais ou menos híbridas, dando margem à combinação de novos movimentos, tendo o praticante aí elementos para começar a montar suas próprias soluções para problemas específicos com cada adversário. Esta é a principal função do boneco. Ele não serve para se lutar contra. Sem um instrutor especializado em Wing Chun para te orientar, usar o boneco de madeira torna-se um ato vazio de masturbação mental exótica sem qualquer utilidade prática.

·        7. Acredita que os Filmes sobre a vida do grande Mestre Yip Man tenha sido a maior influencia para o crescimento do Wing Chun no mundo?
Filme sobre a vida de Yip Man
     SiFu Marcos - Totalmente. O primeiro filme com Donnie Yen foi muito popular, você chega numa mesa de bar e encontra um cara que nunca deu um soco na vida falar do filme. Tem uma música excelente, mostra a vida de um homem que suporta com muita dignidade a repentina pobreza e usa seu conhecimento para manter sua dignidade. Mas tecnicamente falando, as lutas do filme são bobinhas, pueris. Eu mesmo vi na China o Alan Lee, o último aluno de Yip Man, dando porrada num dos técnicos do segundo filme da série, quando este pedia para mostrar os seus movimentos de wing chun, muito elementares. Os coreógrafos têm a função de fazer algo plástico, e não algo efetivo num filme de ação.
     A propósito, não podemos esquecer que acabaram de lançar o “The Grandmasters”, que seria só mais outro filme que explora a vida de Yip Man, se não tivesse participação SiGung Duncan Leung treinando o ator principal, Tony Leung, além do meu SiHing Henry Araneda, formado por Li Hon Ki, de meu SiBak e amigo Josh Shaw e vários amigos que fiz e com quem treinei na China participaram do filme, além do lutador de MMA Cung Le. Resta saber se, no final das contas, o entretenimento vai ceder lugar para um pouco da nossa técnica aparecer. Estamos ansiosos.

·        8. No Brasil e no mundo existem vários “Mestres” de Wing Chun, que vieram de vários outros mestres, a maior parte sendo da Linhagem do Grande Mestre Yip Man, mas mesmo aqueles que foram alunos dele executam aplicações diferentes das ensinadas por Mestre Duncan. Exemplo disso é podemos ver na Internet milhares de versões da forma Sil Lin Tao e variantes técnicas, diga-nos o porquê de tantas variantes?
Sifu em sua viagem á China
      SiFu Marcos - A explicação mais coerente que tudo que li ou ouvi me veio da boca do próprio Duncan Leung, que foi seu primeiro aluno particular a fechar o sistema. Ele nos disse que Yip Man era um professor relapso, que não tinha paciência para ensinar os detalhes da arte a seus alunos menos formais, ou aqueles que pagavam pouco. Outro problema vinha de sua formação chinesa tradicional. Sendo assim, ele não achava que deveria interferir se o cara achava que o jeito dele de fazer a técnica era certo. Ele simplesmente deixava rolar, não se importava. Ainda segundo Duncan, apesar de toda a formação intelectual e sabedoria, Yip Man era viciado em ópio e sua preocupação principal era conseguir dinheiro para manter o seu vício. No mais, todos os estilos acabam variando um pouco entre si, mas o wing chun é uma luta com um aspecto conceitual muito forte, o que favorece naturalmente interpretações diversas. Na minha opinião, a visão estratégica de combate do Wing Chun pode ser aplicada em maior ou menor grau a qualquer outra luta, e neste sentido é talvez mais interessante até que sua própria expressão estilística.
     É exatamente isso que eu faço junto a Leonardo Chamusca (preparador físico da medalha de bronze Adriana Araújo no boxe em Londres) no MMA com Hugo (“Wolverine” Viana, atleta que destacou-se no TUF Brazil e tem uma vitória no UFC, pelo Team Nogueira), pegamos os conceitos do Wing Chun e criamos soluções para certos problemas em seu jogo e criamos inúmeros outros para seus adversários.

·      9. Não vemos no Wing Chun técnicas variadas no uso de pernas, explique-nos o porquê?
     SiFu Marcos - Essa afirmação, feita até mesmo por mestres de kung fu, é um grande equívoco. É justamente o contrário. É corrente no kung fu a expressão, “Pernas do Norte, Punhos do Sul”, mas no caso do Wing Chun, apesar do foco na movimentação de braço para o entendimento da técnica, se contarmos, veremos que temos mais golpes de pernas do que de braço, e um trabalho muito particular de footwork que envolve triangulações entre um ou mais adversários.
      As pessoas também acham que não há golpes circulares na luta, como cruzados e ganchos, há muita ignorância sobre estes temas. Yip Man não gostava de ensinar os Oito Chutes de Wing Chun. Com o avançar da velhice este conteúdo ficou cada vez mais difícil de ser ensinado por ele, porque os chutes de Wing Chun envolvem um grande gasto de energia, sendo caracterizados quase sempre por fortes choques no pé de apoio. É um trabalho doloroso e que leva tempo para dominar. Mas ninguém pode usar plenamente o poder de fogo da luta sem este recurso vital. Considero mesmo este assunto tão urgente no Brasil que digo aqui de antemão será o tema de meu próximo livro. O curioso é que me parece que já há professores de outras escolas pirateando nossos vídeos e copiando a nossa técnica de maneira muito tosca, para tentar fechar a lacuna de algo que nunca aprenderiam pela via normal. Tempos de internet...

·        10. O que é mais importante no Wing Chun?
     SiFu Marcos - Eu poderia dizer um monte de coisa aqui, mas se fosse para resumir em uma palavra, eu diria “coração”. As técnicas do Wing Chun são sistêmicas, ou seja, tem uma lógica conceitual que liga todas as técnicas, mas para entende-la e, mais difícil, executa-la em combate livre, é preciso estar de todo presente. É originalmente uma luta toda calcada na antecipação, no logro e na reação imediata. No entanto, toda a lógica, toda a inteligência do sistema vai por água abaixo se você não tem coração. E coração não pode ser explicado, só ser sentido. E é precisamente isso que torna essa luta uma coisa fantástica, que sai dela mesma e se torna parte do que você é. O Wing Chun é matemático, mas governado pela intuição. Parece contra-senso, mas eu diria que é complementar, ele trabalha a mente interligando estes dois aspectos como poucas artes marciais o fazem.

·        11. Sem dúvida Bruce Lee foi o maior divulgador do Wing Chun para o mundo, porém muitos não aceitam a ideia de chamá-lo de LUTADOR ou até mesmo de MESTRE, o que tem a nos dizer sobre o grande Bruce?
    SiFu Marcos - Bruce Lee foi um lutador de rua na adolescência que por razões pessoais tornou-se um professor nos USA. Mas acredito, mesmo, que seu grande foco era o sucesso no cinema que foi sua grande formação, desde que era astro mirim em Hong Kong. Ele viveu num período de grande efervescência cultural e o formato que ele expôs suas idéias sobre as artes marciais é o que vai eterniza-lo, mais do que ele pôde fazer em luta, mas isso tudo por causa do vulto que ele teve no cinema, percebe?
    Gosto de imaginar Bruce Lee como um cara multifacetado, inteligentíssimo, que escrevia, desenhava, atuava, lutava, e especialmente coreografava e filmava cenas de luta de um jeito insuperável até o presente momento. As pessoas questionam se ele foi mestre porque ele não completou o sistema Wing Chun. Bem, você diria que um cara que fez tudo isso não é um mestre? Complicado falar de alguém que você nunca conheceu pessoalmente, mas como fã estudei a vida dele, e tive a sorte de conviver com pessoas que o conheceram e o viram em ação, e elas dizem que ele era muito bom mesmo, mas elas também não aceitam o endeusamento do cara, e acho isso muito sensato.

·        12. Você acredita que o Kung Fu Wing Chun mudou muito em nosso país nos últimos anos?
     SiFu Marcos – Sim, sem dúvida. Quando o Wing Chun começou no Brasil, quarenta e poucos anos atrás, as informações que dispúnhamos sobre Wing Chun eram completamente associadas à figura do Bruce Lee e o Jeet Kune Do, que se valia de técnicas de variadas artes e por isso mesmo dava-se pouca importância ao conceito de formação completa na luta. Na época não existia internet, e as informações tinham de ser obtidas importando-se livros, revistas, ou viajando para o exterior, não havia com ter acesso aos mestres. Levavam-se anos (isto mesmo, anos!) para que uma informação fosse checada, ou uma coisa nova fosse divulgada.
      No final do anos oitenta e começo dos noventa, a primeira leva de professores brasileiros teve a necessidade de ir buscar mais informação e trouxe ao Brasil mestres consagrados da clã Yip Man de diferentes estilos. O foco agora era o próprio Wing Chun, porque com a popularidade mundial do BJJ no MMA, os mestres já não podiam vir com aquela conversa mole sobre o Wing Chun derrotar todo mundo. Então as pessoas começaram a prestar atenção na cultura chinesa, e o conceito de família wing chun, os valores mais caros à arte foram sendo aos poucos difundidos.
    A virada do século meio que encerra a fase do charlatão amador e instaura a do autodidata bilíngüe que estuda pela internet baixando livros, vídeos etc. e pior, dos mestres de escolas internacionais que passam a vender representações no Brasil. A onda agora é vender status. Dizer que completou o sistema, que pertence a uma confraria que preserva um “tesouro de shaolin”, e uma suposta verdade sobre o sistema que foi escondida “só” por uma escola ou mestre. Mas é claro, passaram-se mais dez anos e ninguém se formou, e a tal verdade continua tão secreta como quando chegou (risos).

·        13. O Senhor é sempre conhecido por não ter “papas na língua” não acha que isso estraga a Figura do Sifu Marcos perante a representação do Wing Chun
   SiFu Marcos - Quem quer fazer a diferença, ser uma referência naquilo que faz, tem de assumir certos riscos, quebrar algumas regras e fixar-se no que deseja se tornar, sem se importar com crítica, especialmente de quem entende do assunto menos que você. Eu não estou no Wing Chun pra ser só mais um, estou aqui para deixar a minha marca. Tenho idéias originais sobre o que eu faço e quero difundi-las. Eu não tenho dinheiro nem grande academia, mas sou um cara que luta e sabe escrever, então, havia um espaço e eu o ocupei.
     Anos atrás, quando eu comecei a escrever, por exemplo, que o soco de uma polegada de Bruce Lee é um truque biomecânico, quando disse em meu primeiro livro que “mais simples e eficiente” das lutas era discurso que devia ser colocado de lado, que a nova onda de estilos criados em cima da origem histórica do Wing Chun era golpe para vender diploma para trouxa, foi um choque pra todo mundo, mas, no meu caso, fundamento tudo o que eu escrevo, e isso irrita quem não está acostumado a pensar. Mas eu digo o que penso respeitando a inteligência de quem me lê. Releio tudo antes de postar, para criticar sem ser ofensivo. Porém, quando o cara é pilantra eu chuto o balde, mesmo. Não tenho medo, não.
   Entenda uma coisa. Em luta sem foco em competição são sempre três personagens que raramente se misturam: o cara mais famoso, que é o que sabe se vender, o cara que realmente sabe, e, por último, uma massa de meeiros que não fede nem cheira. As pessoas não aceitam sucesso fora do sul. Sabe onde está, por exemplo, uma das melhores escolas de kung fu tradicional do Brasil –  que funciona na luta - na minha opinião? Aqui mesmo em Salvador. A família Domingues. E por que ninguém vai atrás desse conhecimento para melhorar sua técnica? Ignorância (falta de acesso à informação) e preconceito, porque não são chineses. Inda mais aceitar que o nordeste tenha bons mestres. Vem gente de todo o mundo vem treinar aqui MMA, Boxe e Capoeira. Por que não kung fu? Se eu morasse em São Paulo, não seria chamado de problemático, mas de revolucionário.

·        14. No Brasil muitos valorizam somente o aprendizado ou aquele Mestre quando ele veio de um Mestre que seja Chinês, ou seja, você só é bom se seu Mestre é Chinês, diga-nos sua opinião sobre isso
     SiFu Marcos - Acho que, ainda hoje, o perfil do cara que se aproxima da cultura oriental está procurando algo exótico, misterioso, então é natural que num primeiro momento se pense desta forma. Mas o que as pessoas não sabem é que quanto menos ocidentalizado for seu instrutor mais dificuldade você terá para se aproximar do seu modo de pensar. No oriente tudo é circular, o ensino não tem um padrão fixo, linear, numérico, helenístico, não é técnica número um e depois o número dois. Você deverá então se aproximar da língua, dos costumes, do modo de pensar deles. Depois de um tempo, deve-se abandonar o romantismo e focar no que realmente importa, e trabalhar duro, como uma pessoa de qualquer etnia faz.
     Com a migração de muitos dos melhores mestres chineses para USA em busca de dinheiro e valorização profissional nos últimos 40 anos, a tendência é que em poucos anos os melhores mestres chineses sejam substituídos por seus alunos ocidentais, de origem chinesa ou não.

·        15. Em Novembro será realizado um Curso em Recife, conte-nos sobre o assunto.
     SiFu Marcos - Nosso curso de será de “Técnicas sistêmicas de Wing Chun para Prevenção de conflitos e Defesa Pessoal em Situações de Estresse e Agressões”, cujo alvo são policiais, seguranças e artistas marciais de qualquer escola ou estilo. Ele parte da minha experiência em conflitos abertos tanto como vítima quanto expectador, sendo que procurei selecionar as técnicas unidas conceitualmente para proporcionar a meus cursandos ofereça uma maneira de ver aquilo que chamamos defesa pessoal pela ótica do Wing Chun, cuja vantagem está mais na atitude preventiva do que a combativa. Teremos uma palestra independente e aberta ao público na noite anterior ao curso, onde explicarei a diferença entre o wing chun e esportes de combate, porque a técnica é versátil nos conflitos abertos, e a teoria de aplicação da técnica de wing chun em combate, tal como a aprendi de SiGung Duncan Leung na China, fundamental para quem quer aprender sobre o Applied Wing Chun. E mais dois dias de trabalho intensivo com certificado emitido por mim e Mestre Li Hon Ki, que ficou animado com a possibilidade de levantarmos o nome da família aqui no nordeste.





SiFu Marcos Abreu
Nona Geração Wing Chun Kuen Phai
E-mail:
sifu@kungfuwingchun.com.br
Website:
Blog:
Perfil Orkut:



Share This!


13 comentários:

  1. Maravilhosa entrevista, mas sou suspeita pra falar pois sou aluna do Sifu Marcos e adoro os treinos, adoro a galera e principalmente adoro o Sifu, justamente por ele ser do jeito que é: inteligente, sem papas na língua, MUITO BOM no que faz e AMIGO!!
    Gostei muito do que ele disse sobre Wing Chun vir do coração, ser intuitivo... Eu sinto a mesma coisa, consigo fazer bem as técnicas quando não raciocino nelas, elas fluem simplesmente...
    Abr
    Cora

    ResponderExcluir
  2. Puts Grilo Sifu, Muito Foda!

    ResponderExcluir
  3. Olá, amigos,

    Aqui é o SiFu Marcos. Venho para agradecer o grande número de acessos em apenas três dias, e o comentário de amigos queridos e pessoas que passei a conhecer depois da publicação. Eu soube que a maior parte das pessoas está tendo dificuldades para comentar a entrevista por este meio por conta de algum probleminha no subscript do Blog, mas SiFu Júlio já está cuidando disto. Enquanto isso, cliquem com o botão direito sobre a ciaxa de postagem do comentário e cliquem na opção "abrir frame em nova aba", e conseguirão digitar o código de segurança e fazer a postagem. Qualquer dúvida ou ponto adicional posso esclarecer por este meio, em meu perfil Facebook ou através do e-mail sifu@kungfuwingchun.com.br

    Abraço,
    Marcos.

    ResponderExcluir
  4. Ótima entrevista, ao responsável pelo blog eu só tenho a dizer que repita mais vezes essa experiência, pois ai está um cara que eu, e com certeza muitos outros, admiram. Será ótimo para o blog sem dúvida alguma!
    Apaixonado pelo que faz, competente, assíduo e nem se fala sobre o esforço e estudo que empreende em sua área. Tem a coragem para, além de buscar aprendizado constante, pensar além do que aprendeu. Marcão, você é uma pessoa em um milhão e seu recente reconhecimento como tal me deixa feliz. Muito sucesso para quem merece Sifu, continue assim!
    Ass.: Sérgio Rios

    ResponderExcluir
  5. Ótima entrevista!
    A forma inteligente e direta com que o Sifu Marcos explica os temas desta arte que tanto admiro realmente o faz se destacar de qualquer outro que tenha visto!
    E digo isso não apenas por suas palavras, que têm esta qualidade, mas porque, como praticante de outras modalidades, tive a oportunidade de receber instruções do Sifu Marcos em cinco ocasiões e em todas elas pude perceber a aplicabilidade abrangente das idéias e combinações eficazes.
    Ficamos, sem dúvidas, ansiosos para consultar o prometido novo livro...

    ResponderExcluir
  6. È por essa sinceridade e ética quase absurdas,por esse espírito guerreiro que nos motiva sempre á darmos o nosso melhor nos treinamentos e na vida, que tenho muito orgulho de ser seu discípulo - e não somente eu, mas todos que estudam sob sua orientação.
    Acompanho o blog star fight ha um certo tempo e vejo o quanto o blog tem crescido,em termos de qualidade e conteúdo. Continuem assim sempre.
    Super abs á todos.
    Dido
    blog do DIdo

    ResponderExcluir
  7. Foi uma das entrevistas mais fiéis sobre wing chun, Ip Man e Bruce Lee.

    Sem medo de ser feliz, expõe muitas verdades que outros tentam esconder, fala a verdade sobre o mito da invencibilidade do Wing Chun que andam vendendo aqui no RJ, que Bruce lee era o mais habilidoso e forte aluno de Ip Man, etc e tal.

    Gosto desse tipo de Wing Chun, sem mentiras ou falácias. Pena que não conheça alguém do Aplied WIng Chun aqui no RJ, só Moy Yat ( considero excelente a metodologia de ensino lá ) e os que "não fedem nem cheiram".

    Abraço.

    ResponderExcluir
  8. Olá, Renato, tudo bem?

    Houve um movimento começado no próprio Rio na vira dos 2000 - justiça seja feita - onde pessoas começaram a questionar o discurso do Wing Chun "invencível", "melhor estilo" etc. Pessoas oriundas da própria MYVT e adjacências começaram um movimento que culminou com a vinda de Benny Meng ao Brasil para implantar lá o HFY Wing Chun que seria (segundo ele) o estilo original e que os demais seriam versões públicas de estilos vindos do Hung Suen (Barcos Vermelhos).

    No final das contas provou-se que o Benny Meng enganou as pessoas por não ter ensinado HFY, mas seu próprio sistema, além de vender diplomas de YMWC e o próprio HFY tinha uma história para lá de mal contada, com um mestre que em quarenta anos não teria ensinado qualquer coisa além de forma SLT (a primeira forma do sistema). Este esforço, embora frustado, de muitas pessoas que conheci, teve um grande valor para a história do Wing Chun, e isso não pode ser desprezado, ou esquecido.

    Conheci pessoas fantásticas durante este período, a quem admiro muito, e que não necessariamente estiveram envolvidas nestes eventos, a saber: Leonora Melo (TYD Wing Chun), Marcelo Alexandrino (que introduziu o HFY no país, hoje no Choy Lee Fut), Thiago Pereira (MYVT, o melhor blogeiro das tradições do Ving Tsun no país em minha opinião), dentre outros. Mas também há hoje quem venda curso de formação "avançada" em três meses! Ninguém pode dizer que o Rio não faz história no Wing Chun, seja como for.

    Até onde sei existem escolas de Applied Wing Chun no Rio. Procure, mas mantenha contato com a MYVT porque eles de uma ótima técnica (meu aluno Dido de Pernambuco foi aluno de aluno deles, e realmente me surpreendeu) tem um respeito pela cultura chinesa que é uma coisa maravilhosa. Tenho alunos vindo de Manaus para treinar, isso mostra o quanto a vontade pode mover-nos até nossos objetivos. Se você quer muito isto, vai conseguir.

    Abraço,
    Marcos

    ResponderExcluir
  9. Acho que esta se for a melhor, está entre as melhores entrevistas de Sifu Marcos. Sinceridade total, domínio amplo do assunto e sem floreios exatamente como é o Wing Chun.
    Consigo até visualizar ele mesmo falando em algumas respostas :D

    Realmente me encho de orgulho por saber que minha escolha dele como mestre foi acertada.

    Grande abraço Sifu e parabéns mais uma vez.

    O aluno de Manaus mencionado acima, sou eu. O investimento financeiro, de tempo, esforço vale cada centavo.

    Deixo aqui meu depoimento pós treino, caso alguem tenha interesse em fazer o mesmo.
    http://blogdodido-dido.blogspot.com.br/2013/03/depoimento-de-fernando-lempe-sobre-seu.html

    ResponderExcluir
  10. Para mim é uma grande honra em tê-lo como amigo, e também um grande incentivo para continuar aprendendo essa maravilhosa arte marcial que nos ensina a nos conhecer melhor. Sucesso Sifu.

    ResponderExcluir

Faça sua Participação, Comentem

Powered By Blogger · Designed By Blogger Templates