Entrevista com Professor Cleber Souza

Entrevista com Professor Cleber Souza

“ACADEMIA KUNG FU XUEXIAO”

1.    Como surgiu o interesse pelas artes marcais?

Minha mãe dizia que o médico precisou me bater três vezes para depois eu chorar, eu brinco dizendo que as duas primeiras palmadas, eu defendi. Assim como a maioria dos meninos de minha época, gostava muito de sair dando golpes, saltos e voadoras como o Jiraya, Jaspion, Changeman e outros personagens marcantes daquela época. Meu pai era faixa preta de Hapkido e me ensinou alguns golpes que me deixou fascinado, e o caminho me trouxe até o kung fu.

2.    Qual momento de sua carreira marcial é considerado por você como o mais importante?

Eu já tive muitas conquistas importantes em minha vida marcial, mas não tive a sorte de ganhar nada, tudo que tenho foi conquistado com muito trabalho, espírito de luta e amor. Poderia falar de campeonatos, adversários e etc., mas hoje em dia, o mais importante para mim é quando entro no recinto marcial, lugar onde posso lapidar meu kung fu, poder servir, ter um trabalho honesto, ter a confiança de todos que me seguem e servir de inspiração para os mais jovens, escrever a história.

3.    Conte um pouco da sua relação com seu Shifu.

Meu shifu era um grande visionário, aprendi muito com ele. Na primeira vez que eu o vi, tinha muita gente querendo tirar foto com ele, foi num campeonato e ele estava indo embora, eu não queria incomodá-lo, porém não podia perder aquela chance de uma foto junto a ele. Como tinha muita gente o chamando, eu precisava chamar a atenção, então eu o chamei em mandarim, “- Mestre! Poderia tirar uma foto comigo?”. Ele parou na hora, olhou para trás e me procurou, consegui tirar a fotografia, mas meu amigo a perdeu em sua câmera, rss. Perdi a fotografia, mas ganhei a semente, e depois mal sabíamos que iriamos caminhar juntos.

O shifu era rígido quando ensinava, e fora dos treinos estava sempre procurando fazer alguma coisa, não parava. Às vezes, quando saíamos do treino, íamos para sua casa jogar, dominó, tomar chá, comer pizza, e conversávamos sobre várias coisas. Apesar de sua idade, ele estava sempre buscando aperfeiçoar-se como pessoa, eu buscava segui-lo neste aspecto. 

4.    Todos os praticantes tem um ídolo do qual surgiu o interesse pela arte, qual é seu ídolo?

Sem dúvida, foi depois que conheci a biografia do famoso Bruce Lee que eu escolhi o que eu queria da vida. E aos 13 anos decidi trilhar o caminho marcial. Tenho outros ídolos, que me inspiram em diferentes situações da minha vida. E acredito que muitas pessoas foram desse jeito também, mas uns perdem os sonhos e outros buscam realiza-los, eu busquei.

5.    Porque a escola do nome Xue Xiao para sua escola?

Quando fundei a academia, era para se chamar KUNG FU XUEXIAO, ou seja, “escola de habilidades”. Mas o público não entenderia, então acrescentei o nome ACADEMIA para que as pessoas pudessem entender, então ficou “ACADEMIA KUNG FU XUEXIAO”, onde se aprende o kung fu como um todo e não fechado apenas em técnicas. “Não ensino técnicas de kung fu, ensino kung fu”.

6.    Qual estilo é lecionado em sua escola?

O estilo Fei He Pai (Grão Mestre Chiu Ping Lok), da garça voadora. Com ramificações de Hunggar, mogar, choigar e meigar. Em paralelo com Wushu Competitivo, Taijiquan e Boxe chinês.

7.    A Escola Xue Xiao é uma das pouquíssimas á lecionar também o mandarim, porque este interesse pela língua?

Eu acho que essa vontade já veio no pacote do kung fu, e neste caso tive muita sorte porque convivi com chineses minha juventude inteira. Sempre gostei de estudar chinês por hobby, e no início as pessoas me falavam que eu era maluco. O que ninguém imaginava na época, e isso há 14 anos, é que o mandarim iria se tornar tão útil e conhecido assim como hoje. Gosto de desafios e este foi um desafio que depois me ajudou muito a entender o pensamento chinês voltado para as artes marciais.

8.    Em sua opinião nosso Kung Fu (Brasil) é bom?

Como você disse Kung fu e não técnicas de kung fu, eu vou dizer que o Brasil ainda tem muito que aprender sobre kung fu em todo seu âmbito, tais como ética, união, profissionalismo e respeito. O Brasil precisa mudar o pensamento sobre os brasileiros, é uma equação matemática de fácil resolução, quando se divide diminui, e quando se soma, aumenta. Aumenta sabe o quê? A força.

O Brasil, todos nós, pessoas, precisamos somar (unir) mais, e dividir (se separar) menos. Quanto ao nível técnico, nosso Brasil está melhorando cada vez mais. Precisamos melhorar a cumplicidade. Não podemos nos enganar, pois somos o que pensamos e em minha opinião, se mudarmos o pensamento, teremos um futuro promissor. 

9.    Qual é seu sonho como Professor?

Como professor eu desejo fundar raízes, deixar sementes boas, fazer parte da história, tornar-se imortal como meu mestre e outros mestres de kung fu que viveram dezenas de anos atrás e que são respeitados até hoje. 

10. Deixe um recado aos nossos leitores:

A vida reage conforme nossa capacidade de pensar e agir. Se você pensa que está vencido, você está, se pensa que não vai ter coragem, você não terá, se você deseja vencer, mas pensa que não pode, é quase certo que não vencerá e se você pensa que vai perder, já perdeu porque o êxito começa com a vontade. Trata-se de um estado da mente. Você precisa pensar alto para elevar-se, precisa estar certo de si mesmo, antes de alcançar algo.

Batalhas na vida nem sempre são conquistadas pelo homem mais forte ou mais rápido. Mas, cedo ou tarde, o homem que vence é o que acredita que pode vencer.

 

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