Entrevista com Thiago Stechinni

O AMULETO DO DRAGÃO

Até o Lançamento do primeiro curta Metragem de Artes Marciais entrevistaremos alguns membros deste trabalho para conhecer um pouco de tudo antes do grande lançamento e com exclusividade o ator principal  do "curta".
ATOR THIAGO STECHINI

Ator do Curta Metragem

COMO SURGIU O CONVITE PARA A PARTICIPAÇÃO DO CURTA？

Havia feito um material de fotos para a minha agência, e pedi ao fotógrafo se poderíamos tirar um tempo do ensaio para fazermos algumas fotos com movimentos e chutes de Karatê, algo que há tempos queria fazer. Na mesma semana o diretor João Paulo de Andrade estava à procura de um ator que também soubesse lutar, para seu projeto, ao ver minhas fotos imediatamente ele as enviou para o coreógrafo de luta do filme Gutemberg Lins que aprovou. Ao ser chamado para o teste do roteiro de “Amuleto do Dragão“ imaginei que tivesse de demonstrar um pouco de minhas habilidades para o coreógrafo e como queria muito o papel me preparei fisicamente alongando antes do teste, até cheguei lá meio suado e com roupas de treino e todos estavam bem vestidos e sentados num sofá (risos), no fim das contas eu já estava aprovado.  Esse personagem era pra ser meu mesmo.

DESDE QUANTOS ANOS CONHECE ARTES MARCIAIS ?

Para mim, assim como para muitos outros, o cinema dos anos 80 e 90 foi um fator decisivo à minha inclinação as artes marciais. Aos 13 anos de idade assisti “O Grande Dragão Branco” com Jean Claude Van Damme pela primeira vez e fiquei fascinado pelo filme e por aquele ator, principalmente após pesquisar sobre sua história de vida a qual me identifico muito,  dai pra frente virei fã de carteirinha de seus filmes, sonhava em ser como ele.  Na época não tinha dinheiro suficiente para frequentar uma escola de Karatê profissional, então passei a fazer aulas gratuitas pela secretaria de esportes da minha cidade natal (Jacareí-SP) algo que não durou muito, pois a oportunidade de estudar para ser ator surgiu e decidi adiar meus estudos marciais e aos 14 anos de idade ingressei no teatro, ambas atividades tomavam muito meu tempo , segui no teatro mas não parava de treinar pois estava focado em um dia poder usar ambos em meu trabalho. A arte cênica e a arte marcial sempre foram dois pilares decisivos na construção de minha personalidade, a disciplina, a dedicação o autoconhecimento corporal e espiritual estão presentes em ambos. Com o tempo passei a conhecer outros mitos do cinema marcial como Jet-li, Jackie Chan, e recentemente conheci o trabalho incrível de Donnie Yen e do britânico Scott Adkins que como Van Damme também uniu a ginastica olímpica às artes marciais o que lhe garantiu excelente habilidade acrobática e flexibilidade. Hoje lamento não ter terminado minha graduação Marcial, mas estou voltando aos poucos.

NO CURTA “O AMULETO DO DRAGÃO” PODE OBSERVAR QUE VOCÊ POSSUI UMA FLEXIBILIDADE INCRIVEL, COMO SURGIU ISSO？

Embora não estivesse mais frequentando a academia de karatê, assistia os filmes de Jean Claude Van Damme repetidamente, e ao mesmo tempo imitava seus chutes e treinava todos os dias o alongamento (espacate). A combinação do alongamento com o tônus dos chutes me proporcionaram flexibilidade suficiente para chutes extremamente altos até o ponto em que finalmente consegui chegar ao nível de alongamento dele, obviamente fiquei muito feliz com isso, pois sempre me diziam que era impossível. É crucial que se alongue sempre, muito tempo de intervalo pode fazer com que o músculo perca sua flexibilidade. Sem exageros, chegue até o seu limite e aguente um pouco, é preciso estar disposto a certo desconforto, mas um pouco a cada dia e você percebe que está melhor que o dia anterior, inspiração é tudo. É notável como nossos heróis de infância carregam uma influencia sob nossa vida adulta, com o tempo nos esquecemos da criança que éramos, e como adorávamos bancar o herói e salvar o dia. O mito do herói seja ele qual for, seja alguém da sua família, do cinema ou dos quadrinhos, será seu primeiro modelo da personalidade que quer assumir, se o modelo é ruim o efeito se dá de forma contrária. Esta é a responsabilidade que mestres de artes marciais, pais, professores e ícones do cinema e música têm com as novas gerações, ser um bom exemplo, ficarei muito grato um dia em saber que meu trabalho foi digno de impelir alguém a querer ser melhor. 

CONTE-NOS UM POUCO SOBRE SEU TRABALHO E CARREIRA COMO ATOR:

Sempre fui um garoto muito tímido quando criança, de baixa autoestima, o tão famoso “Bullying” já existia na época.  Minhas brincadeiras favoritas eram imitar os filmes que assistia (na maioria das vezes de luta e quem sofria era meu irmão) as pessoas ao redor notavam minha inclinação a arte dramática, mas nunca levaram muito a sério. Quando a oportunidade de fazer aulas de teatro apareceu em minha escola ingressei com o objetivo de chegar onde meus ídolos do cinema chegaram, a partir de então trabalhei em minhas habilidades interpessoais e passei a ser uma pessoa mais articulada e ganhei respeito de meus colegas de escola. Ao conhecer pessoas do meio teatral amadureci na arte e passei a aderir outros modelos e influencias na minha formação como ator como Al Pacino, Robert De Niro, James Dean e os brasileiros do meu tempo como Wagner Moura, Rodrigo Santoro, Dan Stulbach entre outros. Vieram trabalhos mais profissionais no teatro, chegando até mesmo a ser indicado a melhor ator em festivais teatrais da região. Obras como: “O Pedido de Casamento”- Anton Chekov, “Mcbeth”- William Shakespeare, “Jesus-homem”- Plínio Marcos, “Senhora dos Afogados”- Nelson Rodrigues entre outros. O contato com a linguagem cinematográfica veio com curta-metragens com profissionais do cinema e da TV como o ator/diretor Luiz Bacceli, com o ator Jui Huang, com o diretor/Ator Wolf Maya e os profissionais de sua escola e o diretor João Paulo Andrade em o “Amuleto do Dragão”, além de trabalhos para publicidade. Embora minha formação inicial seja no teatro minha inclinação está mesmo no cinema. Estou no término de minha formação na Escola de Atores Wolf Maya, uma das melhores escolas de atores do país.

NO CURTA SEU PERSONAGEM É Mestre Humberto Maia CONTE NOS UM POUCO

 O Humberto é um homem de família, excepcionalmente treinando nas artes do Kung-Fu desde criança por seu pai, uma lenda das artes marciais, Humberto vive com orgulho dessa única herança que seu pai lhe deixou.  Mas como tudo na vida tem seu preço, ele é um homem atormentado por uma grande responsabilidade que lhe fora incubida, Humberto se vê tendo que viver com um segredo e uma promessa que fez a seu pai, promessa essa que o corrói dia e noite, afetando-o em todos os âmbitos de sua vida. Não fosse o bastante, certa noite Humberto acorda e vê a si mesmo e sua família feitos refém em sua própria casa.  Suas habilidades são postas à prova e ele vai lutar com todas as forças para proteger as pessoas que ama e defender seu legado a qualquer custo.

COMO É TRABALHAR COM A ACTION KUNG FU？

O segredo do sucesso de um trabalho está na equipe envolvida no mesmo. O trabalho da Action Kung-Fu foi crucial para o desenvolvimento de “O Amuleto do Dragão”. Eu e o ator Jui Huang ficamos durante mais de 5 meses trabalhando duro nas coreografias de luta do filme e também nos preparando fisicamente para as filmagens, pois somos os atores que executam todas as cenas de luta. Os professores Gutemberg Lins e Jardel Oliveira foram minuciosos em cada detalhe, sejam em posturas de mão, golpes, defesas, acrobacias, além de proporcionar, pra mim pelo menos que venho do Karatê, maior conhecimento sobre a arte do Kung-Fu, todo o processo em si já foi um grande laboratório para a construção do meu personagem Humberto Maia. Como coreógrafo, o Gutemberg sempre presou em primeiro lugar a segurança de nós atores, primeiramente executando a coreografia com seu assistente antes de passar para nós, além de sempre procurar aproveitar o máximo da habilidade marcial que eu e o Jui já tínhamos para  enriquecer a coreografia, falávamos todos a mesma língua tanto nos ensaios como no Set de filmagem, eles sempre foram abertos à sugestões de nós atores, sem deixarem de estar atentos a cada detalhe durante as filmagens.

COMO FOI SUA PREPARAÇÃO PARA O CURTA？

Tínhamos ensaios da coreografia 2 vezes por semana chegando a 6 horas de trabalho ou mais, sempre começando com um cauteloso alongamento e aquecimento antes de partirmos para as técnicas. Passei a intensificar meu treino cardiorrespiratório para adquirir mais resistência além dos treinos de musculação e fortalecimento intensifiquei no alongamento, pois queria poder mostrar belos chutes na telona. Além dos chutes altos e acrobacias, tive que me adaptar a posições do kung-fu, o diretor não quis que o Humberto e Cao Yu (Jui Huang) tivessem um estilo definido, mesmo porque a coreografia passa por outras artes marciais como Jiu-jitsu e Karatê, sem perder o Kung-fu como essência. Tive uma preocupação na construção do Humberto para que ele fosse um personagem humano e que as pessoas o vissem na tela e pudessem se relacionar como drama que o personagem vive, para que não fosse apenas um filme de luta, mas sim uma obra de arte completa.  Assisti e re-assiti a muitos filmes de Kung-fu, prestando mais atenção a cada estilo e sua peculiaridade e além de conviver com os próprios professores Gutemberg Lins e Jardel Oliveira tive o prazer de poder também conversar com o Sifu Francisco Nobre, discípulo da Grã Mestra Lilly Lau do estilo Garra de Águia e com a campeã de Tai-Chi moderno e também colega de elenco Daiana Kwai Lin Ng. 

EM TODO O TRABALHO O QUE EM SUA OPINIÃO FOI A “COISA” MAIS DIFICIL？

Era sempre bem difícil eu me contentar com algo que eu fazia (risos). Pois sempre fui muito perfeccionista com relação a meu trabalho, meus colegas podem afirmar isso, pois eu sempre pedia mais um take, mais uma repetição. Mas o que se mostrou um grande desafio foi uma acrobacia em específico, é uma progressão do movimento de Wushu chamado Butterfly (ou como alguns conhecem rabo de dragão ou andorinha) onde há um giro de 360 no ar e um chute no adversário ao aterrissar, fiquei os 6 meses treinando essa acrobacia e quando achava que estava próximo de executá-la via que não estava do jeito que queria, além do prazo para os dias da filmagem havia muito da minha auto cobrança foi onde o auxílio moral dos professores Gutemberg e Jardel me ajudou a manter o foco. Para piorar acabei lesionando o ombro em um dos treinos, o que me assustou muito, pois estávamos próximos das filmagens, mas graças a Deus me recuperei a tempo, e com muito treino e dedicação consegui executar o chute. 

O QUE PODEMOS ESPERAR DO CURTA METRAGEM？

Cinematograficamente falando nada parecido com “O Amuleto do Dragão” fora feito antes aqui no Brasil com uma equipe 100% brasileira. Há muito tempo especulava-se se conseguiríamos fazer algo com um padrão de qualidade tão bom quanto Hollywood, e o cinema brasileiro tem provado que sim, com produções de ação como “Tropa de Elite” do José Padilha, “Dois Coelhos” do Afonso Poyart. “O Amuleto do Dragão” vem como um tributo às artes marciais, uma trama mística, um elenco jovem, interpretações humanas e cenas de luta surpreendentemente estéticas e ao mesmo tempo violentas com produção de primeira linha digno de se tornar um longa metragem e ser mais um divisor de águas no cinema de ação brasileiro.

PODE NOS CONTAR UMA CURIOSIDADE DO CURTA?

Não posso contar muita coisa, mas posso afirmar que vai ficar um gostinho de quero mais em todos que assistirem.

DEIXE UM RECADO AOS NOSSOS LEITORES: 

A todos os amantes e praticantes das artes marciais fica os meus parabéns por colocarem nosso país como referencia mundial nas artes marciais. Mais e mais toda a beleza e qualidade dessa arte milenar que é o kung-fu está sendo reconhecida e admirada em nosso país. Espero de coração que possa contribuir com a minha arte para que mais pessoas conheçam e passem a respeitar os atletas, mestres e praticantes da arte marcial, seja o estilo e gênero que for. A arte marcial é a arte de vencer a si mesmo, respeitar ao próximo e a si mesmo, vencer obstáculos e criar pessoas cada vez melhores e mais fortes. Que não nos esqueçamos dos nossos heróis do passado pois eles são o elo do melhor momento de nossas vidas, nossa infância, e moldaram os adultos que somos hoje,assim sejamos nós também heróis. Oss!