ENTREVISTA COM ALEX LO (Lo Hsiang Chi)
Sifu Alex lo
(Lo Hsiang Chi) é discípulo “Indoor”(dentro da Sala) do renomado Grãomestre
Frank Yee.
Presidente da
Yee's Hung Ga no Brasil.
COMO SURGIU O
INTERESSE PELAS ARTES MARCIAIS?
Ao
contrário de outros mestres e professores, na minha adolescência eu não gostava
de artes marciais. Nem mesmo gostava de esportes.
A minha entrada para as artes marciais ocorreu aos 22
anos, por achar que estava sedentário. No terceiro ano da faculdade, quando
iniciei um estágio, percebi que eu saía da cadeira do trabalho para a cadeira
da faculdade e isso não era saudável. Precisava me mexer e achei legal tentar uma
arte marcial, como perto de minha casa havia uma escola de Kung Fu esta foi a
modalidade escolhida.
Daí
por diante nunca deixei ela, apesar de todas as dificuldades e decepções que
encontrei no caminho, as alegrias e satisfações são bem maiores.
QUAIS ARTES
MARCIAIS FAZEM PARTE DE SEU CURRÍCULUM?
Treinei muito tempo o Kung Fu da TSKF, orientado para
formas e em sua maioria Louva-a-deus. Tive também passagem pelo Yi Chuan (boxe
do pensamento), Tai Chi Chuan Simplificado e Shao Lin Chuan. Porém hoje me especializei
no Hung Ga Tradicional (legado do Herói chinês Wong Fei Hung). Nunca saí das
artes marciais Chinesas, sou partidário da especialização. Gosto de ter
intercâmbio com outras artes marciais, pois sempre temos algo a aprender. Em
minha opinião, isso serve para melhorar a sua arte marcial e não aprender um
pouco de tudo. Meu mestre Frank Yee fala que se você aprende um pouco de cada
ao final você não sabe nada.
O SENHOR FOI
ALUNO DO MESTRE GABRIEL PIRES, CONTE-NOS UM POUCO SOBRE ESSA RELAÇÃO NO COMEÇO:
Sifu Gabriel foi quem me introduziu ao Kung Fu e
sempre serei grato por isso. Ele conta que nas primeiras aulas eu era tão torto
que ele chegou a cogitar em recomendar-me a outro professor. Porém a
perseverança venceu. Alunos entravam e saíam e eu continuava lá.
Nunca fui muito bom em formas como meus antigos
colegas de treino que foram e são até hoje ótimos atletas. Mas minha
persistência e comprometimento foram reconhecidos pelo Sifu Gabriel. Tivemos
uma parceria muito boa. Fiz parte do time de formas, introduzi a Dança do Leão
na academia e trabalhamos juntos no Campeonato Internacional promovido por ele.
Todos nós colhemos bons frutos na época.
QUAL SUA
RELAÇÃO HOJE COM O MESTRE GABRIEL PIRES E A TSKF?
A relação é de respeito. Pelo menos da
minha parte. Como disse anteriormente sou grato a ele. Não é segredo que temos
pensamentos diferentes em relação a arte marcial. Pensando bem, temos coisas em
comum: saímos das escolas que treinávamos por ter idéias diferentes. Hoje,
ambos somos felizes pelos caminhos que escolhemos.
Hoje quando nos encontramos, tanto com o Sifu quanto
com os outros membros da TSKF, conversamos, trocamos ideias e rimos muito.
Quando saí da tutela do Sifu Gabriel, meu mestre Frank
Yee me falou: “Uma vez seu mestre, sempre será seu mestre”. O que posso dizer é
que sempre que me perguntarem com quem treinei o nome dele será mencionado.
COMO CONHECEU
O MESTRE FRANK YEE?
Em 2006 fui para China conhecer um pouco do
berço da minha arte marcial. Cheguei à capital Pequim e fiquei decepcionado,
pois só encontrei escolas de modalidades modernas, como San Da, Wushu Moderno e
até Taekowndo. Eu procurava o Kung Fu tradicional. Fui para o famoso Templo
Shaolin e treinei durante 6 meses. Porém meus amigos estavam deixando a escola
Shaolin e estava perdendo a motivação, o frio estava prejudicando o desempenho
e fui procurar outra escola. Através da internet, achei a escola de meu Mestre
em Toisan (TaiShan em mandarim).
Uma
curiosidade é que só havia conversado com um aluno dele. Disse que iria para lá
e quando cheguei à escola ele ficou surpreso. Disse que não acreditava que eu
fosse lá vindo desde o templo shaolin (província de he nan). Fez uma série de
perguntas e aceitou que treinasse com ele, pois demonstrei persistência e boa
intenção pela arte marcial.
Nessa
época, eu ainda não sabia que ele era um mestre tão renomado e com uma sólida
carreira nos estados unidos, somente quando retornei ao Brasil, através de
maiores pesquisas tive conhecimento disso.
COMO É SEU
RELACIONAMENTO COM MESTRE FRANK YEE?
Se
tem uma palavra que resume minha relação com meu Sifu é confiança. Mas
confiança é construída com o tempo. Muita gente pensa que a minha representação
da Yee's Hung Ga International Association foi de um dia para outro, o que não
é verdade. Desde 2007 mantivemos contato, continuei praticando e aperfeiçoando
os ensinamentos. A representação só veio em 2011 e desde lá temos um contrato
verbal, que para quem confia é muito mais importante que qualquer papel escrito.
Estabeleci essa relação não somente com ele mas com a Yee's Hung Ga
Internatinal Association, que é presidida pelo filho adotivo do meu Sifu, meu
Dai Si Hing (Grande irmão) Pedro Cepero Yee.
Meu
sifu é muito severo nos meus treinos, pois sabe que o peso em minhas costas é
maior do que para os outros membros do Brasil. Isso porque ele me deu a missão
de construir a reputação da associação aqui no país. Para isso não pode ser um
Kung Fu “mais ou menos”. Além disso, para ele, ter conhecimento, conteúdo e filosofia
são aspectos fundamentais para um artista marcial. Foi através desse legado que
pude ver a profundidade de um único estilo de Kung Fu.
Em contrapartida, com o tempo meu mestre tem confiado
cada vez mais nas minhas decisões e ações da Yee's Hung Ga aqui no Brasil. Ele
como um grande mestre, nunca me obrigou a fazer nada, pelo contrário, sempre
mostrou o caminho e deixou que eu tomasse minhas próprias decisões.
QUAL ESTILO ENSINADO EM SUA ESCOLA?
Hoje
só ensino Hung Ga (Shaolin 5 animais)
aos meus alunos. Como disse sou adepto a especialização.
Há
aulas de San Da também na minha escola. Porém, não considero San Da como um
estilo mas como a modalidade desportiva do Kung Fu. Como o próprio nome diz,
“luta livre” e, portanto, coloco muito do sabor Hung Ga no treino.
A DANÇA DO LEÃO AINDA
NÃO É MUITO POPULAR ENTRE AS ESCOLAS DE KUNG FU, O QUE FAZER PARA REVERTER ISSO
EM SUA OPINIÃO?
Há
dois problemas em relação a isso. O primeiro é muito fácil de resolver, que é
passar as técnicas e conhecimento. Muitas escolas não treinam, pois não sabem,
não por falta de vontade. Precisam que algum professor passe a técnica e o
significado de cada passo do leão chinês. Uma vez que aprendem, praticar além
de um ótimo exercício é divertido. Passar por obstáculos, acrobacias e aprender
o a instrumentação é diversão pura! Ao contrário do que pensam, muitos mestres
estão abertos para promover cursos de dança do leão, independentemente da
linhagem da escola.
O
segundo aspecto, que é mais difícil são os aparatos necessários para realizar a
Dança. É muito difícil trazer o kit com Leão chinês e instrumentos para o
Brasil. São poucos os que manufaturam aqui e os que fazem cobram caro, pois não
tem concorrência e é difícil de fazer.
Se perguntar para qualquer escola se querem aprender
eles vão dizer que sim. Mas falta um desses aspectos ou os dois.
A Dança do Leão faz parte do folclore chinês e muitos
não sabem que fazer a Dança em eventos especiais promove boa sorte e fortuna ao
local e aos anfitriões. Casamentos, abertura de estabelecimentos, ano novo e
festas de aniversário são exemplos de eventos que podem ser “iluminados” pela
Dança do Leão. O caminho é fazer mais eventos, divulgar mais profissionalmente
esse trabalho.
QUAL SUA OPINIÃO SOBRE
O KUNG FU NO BRASIL?
O Kung
Fu ficou muito tempo preso somente em sua comunidade. Parece que o Kung Fu é
separado do conjunto maior que é arte marcial. Há diversos fatores que
contribuíram para isso, como a falta de conhecimento profundo e a visão geral
de que o Kung Fu é somente arte. Isso criou uma discriminação em relação ao Kung
Fu das outras artes marciais como uma coisa mítica repleta de lendas e não de
fatos.
Porém
o conteúdo do Kung Fu tradicional ainda é desconhecido da maioria dos praticantes.
Mas vejo que isso está mudando com essa nova geração, estamos à procura cada
vez mais de conhecimento e técnica, pois belo ela já é. Bons mestres estão de
olho no Brasil, porque sabem que é um público ainda inexplorado.
Vejo que nossa geração está no caminho de ter mais
respeito mútuo, com poucas exceções. Principalmente da nossa geração para
frente. Um exemplo desse bom convívio é a repercussão desse Blog nas diversas
mídias digitais.
COBRAR MUITO
PELO KUNG FU ENSINADO OU COBRAR POUCO?
Cobrar o que vale. Eu cobro bem pelo que ensino. O
praticante de artes marciais precisa dar valor ao conteúdo que está adquirindo.
Qualquer pessoa ensina movimentos, mas poucas são aptas a ensinar Kung Fu. Se
um aluno aprende movimentos, não precisa pagar muito por isso. Mas se quer
agregar conhecimento, que é o patrimônio mais precioso de uma pessoa, é preciso
investir em sua formação. Pois as pessoas podem tirar tudo de uma pessoa, menos
o seu conhecimento.
Pense
no que eu já gastei e o que ainda estou gastando para a minha formação. Na minha
compreensão aquele que cobra R$60,00 ou R$ 80,00 por mês pela sua aula não deve
ter investido muito para passar seu conhecimento para frente.
Os
professores precisam dar valor ao seu trabalho. Outras artes marciais cobram no
mínimo R$2.000,00 por um exame de faixa preta. Fico me perguntando por que o Kung
Fu é diferente? Por não ter qualidade? É um tema para reflexão.
Minha
cerimônia de bai shi (discipulado) foi cara. Mas não me arrependo de nenhum
centavo pago.
EM RELAÇÃO Á CHINA, EUA
E OUTROS PAÍSES COMO O SENHOR VÊ NOSSO PROGRESSO NO KUNG FU?
A
China por muito tempo sobrepôs o Wushu Moderno sobre o Tradicional. A retomada
da Arte Marcial Tradicional na China continental é ainda recente, portanto, em
minha opinião, por mais que pareça estranho, a China está atrás dos EUA e
Europa.
Em recente post, o Sifu Nelson Ferreira comentou que
aqueles que desejam aprender Kung Fu tradicional, deveriam gastar dinheiro indo
para os EUA e não para a China. Eu mesmo comprovei isso na minha ida para a
China em 2006/2007. Meu Sifu é uma das pessoas responsáveis pela retomada do
Kung Fu tradicional na China.
Já
o Brasil ainda é um adolescente em relação a esses países. Não de modo
pejorativo, pois temos muita condição de crescer, mas falta, mais uma vez,
conhecimento profundo. Ainda estamos hoje voltados para um Kung Fu que é
bonito, artístico mas um pouco vazio. Um velho dizer Hung Ga diz: “treinar Arte
Marcial sem treinar Gong (meio de obter força), quando velho um vazio só”.
Isso
está mudando, pois quem quer aprofundar no Kung Fu tem muitas possibilidades
através de mestres de qualidade que estão vindo para o nosso país. Esses
mestres veem potencial tanto qualitativo quanto financeiro nos nossos artistas
marciais. O mercado Norte Americano e Europeu já estão saturados e muitos
mestres já deixaram o legado para seus discípulos.
QUAL SEU
OBJETIVO EM PROL DO KUNG FU?
O primeiro passo é trabalhar para que o Kung Fu seja
reconhecido como uma arte marcial efetiva. A sua beleza já é conhecida pelo
público em geral. Para minha felicidade percebi que não estou sozinho nessa
jornada, e fiz muitos amigos nas redes sociais por conta desse ideal.
Fico triste que outros praticantes acham que Kung Fu
não é eficiente. Temos que parar de nos esconder atrás de vestimentas pomposas
fazendo firulas, precisamos mostrar a profundidade de cada estilo de Kung Fu. E
tratar ela como Arte Marcial mesmo. Com toda beleza e conhecimento intrínseco a
ela.
Tenho a ambição de ser referência da minha arte
marcial aqui no Brasil. Mas isso é consequência de treinar, pesquisar e
estudar.
DEIXE UM
RECADO AOS NOSSOS LEITORES:
Gosto de falar para que os praticantes amem a sua arte
marcial. Não se apaixonem, pois a paixão é efêmera, passa. Amar é continuar
gostando, apesar de algumas decepções e barreiras ao longo do caminho. Saber
que o Kung Fu apesar disso vai te dar mais alegrias que decepções.
Aos aspirantes a professor, sejam justos e íntegros.
Pois mais que isso possa te dar um prejuízo momentâneo, olhem sempre para o
futuro e como seu nome estará na comunidade marcial. Não faça nada que não
gostaria que fosse feito com você.
...e Arte Marcial uma Família!
entrevista boa desse jovem professor, europa ate concordo mas EUA? é o maior celeiro de picaretas do kungfu, o que tem de mestre kung fu panda la esta cheio principalmente os que aprendem uma coisa e dizem que ensinam outra
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirComo em todo Lugar há bons e maus profissionais. Estou me referindo a quantidade de bons sifus. Isso Se deve pela imigração chinesa para os EUA que levou a bons mestres TRADICIONAIS a ensinarem por lá já que não poderiam passar a sua tradição na china continental pela 1a fase maoista. Eles deixaram muito bons discípulos por lá. Como tudo que cresce sempre há uma deturpação, como em qualquer arte marcial.
ExcluirOlá queridos,por pouco tempo fui aluno do Alex Lo, e nesse meio tempo aprendi diversos detalhes que ele fazia questão que eu aperfeiçoasse.Ficava irritado com tanto detalhe,porém,trago essas informações até hoje em outro estilo de Kung Fu (Louva-a-deus)que fazem com meu treino se torne um diferencial. Agradeço a todos momento aprendidos com esse, que pra mim, foi e é um grande Mestre.
ResponderExcluirMirval
Parabéns pela excelente entrevista, madura, consciente. Sifu Alex mostra uma grande paixão pelo Kung Fu, e sua trajetória é uma amostra de como este processo do viver marcial é sofrido e, ao mesmo tempo, gratificante. A principal procura deve ser por um mestre que domine não apenas um cojunto de técnicas, mas que encare seu conhecimento como um legado a ser preservado. Desejo sucesso ao entrevistado e sua escola.
ResponderExcluirObrigado Sifu Marcos. Você é uma das pessoas que tive em mente quando falo em pessoas que estão comigo na jornada para tornar visível o Kung Fu EFETIVO e Prático.
ExcluirBoa sorte para todos nós e parabéns pelo seu trabalho. Sei que também é um trabalho sofrido e gratificante.
Somente verdadeiros mestres podem fazer com que uma pessoa que não gostava de arte marcial e nem mesmo de esportes passem a fazer com que essas coisas passem a ser fundamentais em sua vida. Por isso as palavras de quem entende “Uma vez seu mestre, sempre será seu mestre”. Parabéns pela entrevista.
ResponderExcluirhoje muito sifu por ai, muito propaganda, muito fala-fala, muito pancada e poco kung-fu. tem que ir china, templo e treinar com mestre verdade ai sim saber kung-fu, saber alma kung-fu.
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