26 de mai. de 2013

Entrevista com Sifu Alex lo



ENTREVISTA COM ALEX LO (Lo Hsiang Chi)

 Sifu Alex lo (Lo Hsiang Chi) é discípulo “Indoor”(dentro da Sala) do renomado Grãomestre Frank Yee.
Presidente da Yee's Hung Ga no Brasil.

COMO SURGIU O INTERESSE PELAS ARTES MARCIAIS?
            Ao contrário de outros mestres e professores, na minha adolescência eu não gostava de artes marciais. Nem mesmo gostava de esportes. 
A minha entrada para as artes marciais ocorreu aos 22 anos, por achar que estava sedentário. No terceiro ano da faculdade, quando iniciei um estágio, percebi que eu saía da cadeira do trabalho para a cadeira da faculdade e isso não era saudável. Precisava me mexer e achei legal tentar uma arte marcial, como perto de minha casa havia uma escola de Kung Fu esta foi a modalidade escolhida.
            Daí por diante nunca deixei ela, apesar de todas as dificuldades e decepções que encontrei no caminho, as alegrias e satisfações são bem maiores.

QUAIS ARTES MARCIAIS FAZEM PARTE DE SEU CURRÍCULUM?
Treinei muito tempo o Kung Fu da TSKF, orientado para formas e em sua maioria Louva-a-deus. Tive também passagem pelo Yi Chuan (boxe do pensamento), Tai Chi Chuan Simplificado e Shao Lin Chuan. Porém hoje me especializei no Hung Ga Tradicional (legado do Herói chinês Wong Fei Hung). Nunca saí das artes marciais Chinesas, sou partidário da especialização. Gosto de ter intercâmbio com outras artes marciais, pois sempre temos algo a aprender. Em minha opinião, isso serve para melhorar a sua arte marcial e não aprender um pouco de tudo. Meu mestre Frank Yee fala que se você aprende um pouco de cada ao final você não sabe nada.

O SENHOR FOI ALUNO DO MESTRE GABRIEL PIRES, CONTE-NOS UM POUCO SOBRE ESSA RELAÇÃO NO COMEÇO:

Sifu Gabriel foi quem me introduziu ao Kung Fu e sempre serei grato por isso. Ele conta que nas primeiras aulas eu era tão torto que ele chegou a cogitar em recomendar-me a outro professor. Porém a perseverança venceu. Alunos entravam e saíam e eu continuava lá.
Nunca fui muito bom em formas como meus antigos colegas de treino que foram e são até hoje ótimos atletas. Mas minha persistência e comprometimento foram reconhecidos pelo Sifu Gabriel. Tivemos uma parceria muito boa. Fiz parte do time de formas, introduzi a Dança do Leão na academia e trabalhamos juntos no Campeonato Internacional promovido por ele. Todos nós colhemos bons frutos na época.


QUAL SUA RELAÇÃO HOJE COM O MESTRE GABRIEL PIRES E A TSKF?
A relação é de respeito. Pelo menos da minha parte. Como disse anteriormente sou grato a ele. Não é segredo que temos pensamentos diferentes em relação a arte marcial. Pensando bem, temos coisas em comum: saímos das escolas que treinávamos por ter idéias diferentes. Hoje, ambos somos felizes pelos caminhos que escolhemos.
Hoje quando nos encontramos, tanto com o Sifu quanto com os outros membros da TSKF, conversamos, trocamos ideias e rimos muito.
Quando saí da tutela do Sifu Gabriel, meu mestre Frank Yee me falou: “Uma vez seu mestre, sempre será seu mestre”. O que posso dizer é que sempre que me perguntarem com quem treinei o nome dele será mencionado.


COMO CONHECEU O MESTRE FRANK YEE?

Em 2006 fui para China conhecer um pouco do berço da minha arte marcial. Cheguei à capital Pequim e fiquei decepcionado, pois só encontrei escolas de modalidades modernas, como San Da, Wushu Moderno e até Taekowndo. Eu procurava o Kung Fu tradicional. Fui para o famoso Templo Shaolin e treinei durante 6 meses. Porém meus amigos estavam deixando a escola Shaolin e estava perdendo a motivação, o frio estava prejudicando o desempenho e fui procurar outra escola. Através da internet, achei a escola de meu Mestre em Toisan (TaiShan em mandarim).
Uma curiosidade é que só havia conversado com um aluno dele. Disse que iria para lá e quando cheguei à escola ele ficou surpreso. Disse que não acreditava que eu fosse lá vindo desde o templo shaolin (província de he nan). Fez uma série de perguntas e aceitou que treinasse com ele, pois demonstrei persistência e boa intenção pela arte marcial.
Nessa época, eu ainda não sabia que ele era um mestre tão renomado e com uma sólida carreira nos estados unidos, somente quando retornei ao Brasil, através de maiores pesquisas tive conhecimento disso.

COMO É SEU RELACIONAMENTO COM MESTRE FRANK YEE?
Se tem uma palavra que resume minha relação com meu Sifu é confiança. Mas confiança é construída com o tempo. Muita gente pensa que a minha representação da Yee's Hung Ga International Association foi de um dia para outro, o que não é verdade. Desde 2007 mantivemos contato, continuei praticando e aperfeiçoando os ensinamentos. A representação só veio em 2011 e desde lá temos um contrato verbal, que para quem confia é muito mais importante que qualquer papel escrito. Estabeleci essa relação não somente com ele mas com a Yee's Hung Ga Internatinal Association, que é presidida pelo filho adotivo do meu Sifu, meu Dai Si Hing (Grande irmão) Pedro Cepero Yee.

Meu sifu é muito severo nos meus treinos, pois sabe que o peso em minhas costas é maior do que para os outros membros do Brasil. Isso porque ele me deu a missão de construir a reputação da associação aqui no país. Para isso não pode ser um Kung Fu “mais ou menos”. Além disso, para ele, ter conhecimento, conteúdo e filosofia são aspectos fundamentais para um artista marcial. Foi através desse legado que pude ver a profundidade de um único estilo de Kung Fu.
Em contrapartida, com o tempo meu mestre tem confiado cada vez mais nas minhas decisões e ações da Yee's Hung Ga aqui no Brasil. Ele como um grande mestre, nunca me obrigou a fazer nada, pelo contrário, sempre mostrou o caminho e deixou que eu tomasse minhas próprias decisões.
  
QUAL ESTILO ENSINADO EM SUA ESCOLA?
Hoje só ensino Hung Ga (Shaolin 5 animais)  aos meus alunos. Como disse sou adepto a especialização.
Há aulas de San Da também na minha escola. Porém, não considero San Da como um estilo mas como a modalidade desportiva do Kung Fu. Como o próprio nome diz, “luta livre” e, portanto, coloco muito do sabor Hung Ga no treino.

A DANÇA DO LEÃO AINDA NÃO É MUITO POPULAR ENTRE AS ESCOLAS DE KUNG FU, O QUE FAZER PARA REVERTER ISSO EM SUA OPINIÃO?
Há dois problemas em relação a isso. O primeiro é muito fácil de resolver, que é passar as técnicas e conhecimento. Muitas escolas não treinam, pois não sabem, não por falta de vontade. Precisam que algum professor passe a técnica e o significado de cada passo do leão chinês. Uma vez que aprendem, praticar além de um ótimo exercício é divertido. Passar por obstáculos, acrobacias e aprender o a instrumentação é diversão pura! Ao contrário do que pensam, muitos mestres estão abertos para promover cursos de dança do leão, independentemente da linhagem da escola.
O segundo aspecto, que é mais difícil são os aparatos necessários para realizar a Dança. É muito difícil trazer o kit com Leão chinês e instrumentos para o Brasil. São poucos os que manufaturam aqui e os que fazem cobram caro, pois não tem concorrência e é difícil de fazer.
Se perguntar para qualquer escola se querem aprender eles vão dizer que sim. Mas falta um desses aspectos ou os dois.
A Dança do Leão faz parte do folclore chinês e muitos não sabem que fazer a Dança em eventos especiais promove boa sorte e fortuna ao local e aos anfitriões. Casamentos, abertura de estabelecimentos, ano novo e festas de aniversário são exemplos de eventos que podem ser “iluminados” pela Dança do Leão. O caminho é fazer mais eventos, divulgar mais profissionalmente esse trabalho.

QUAL SUA OPINIÃO SOBRE O KUNG FU NO BRASIL?
O Kung Fu ficou muito tempo preso somente em sua comunidade. Parece que o Kung Fu é separado do conjunto maior que é arte marcial. Há diversos fatores que contribuíram para isso, como a falta de conhecimento profundo e a visão geral de que o Kung Fu é somente arte. Isso criou uma discriminação em relação ao Kung Fu das outras artes marciais como uma coisa mítica repleta de lendas e não de fatos.
Porém o conteúdo do Kung Fu tradicional ainda é desconhecido da maioria dos praticantes. Mas vejo que isso está mudando com essa nova geração, estamos à procura cada vez mais de conhecimento e técnica, pois belo ela já é. Bons mestres estão de olho no Brasil, porque sabem que é um público ainda inexplorado.
Vejo que nossa geração está no caminho de ter mais respeito mútuo, com poucas exceções. Principalmente da nossa geração para frente. Um exemplo desse bom convívio é a repercussão desse Blog nas diversas mídias digitais.

COBRAR MUITO PELO KUNG FU ENSINADO OU COBRAR POUCO?
Cobrar o que vale. Eu cobro bem pelo que ensino. O praticante de artes marciais precisa dar valor ao conteúdo que está adquirindo. Qualquer pessoa ensina movimentos, mas poucas são aptas a ensinar Kung Fu. Se um aluno aprende movimentos, não precisa pagar muito por isso. Mas se quer agregar conhecimento, que é o patrimônio mais precioso de uma pessoa, é preciso investir em sua formação. Pois as pessoas podem tirar tudo de uma pessoa, menos o seu conhecimento.
Pense no que eu já gastei e o que ainda estou gastando para a minha formação. Na minha compreensão aquele que cobra R$60,00 ou R$ 80,00 por mês pela sua aula não deve ter investido muito para passar seu conhecimento para frente.
            Os professores precisam dar valor ao seu trabalho. Outras artes marciais cobram no mínimo R$2.000,00 por um exame de faixa preta. Fico me perguntando por que o Kung Fu é diferente? Por não ter qualidade? É um tema para reflexão.
Minha cerimônia de bai shi (discipulado) foi cara. Mas não me arrependo de nenhum centavo pago.

EM RELAÇÃO Á CHINA, EUA E OUTROS PAÍSES COMO O SENHOR VÊ NOSSO PROGRESSO NO KUNG FU?
            A China por muito tempo sobrepôs o Wushu Moderno sobre o Tradicional. A retomada da Arte Marcial Tradicional na China continental é ainda recente, portanto, em minha opinião, por mais que pareça estranho, a China está atrás dos EUA e Europa.
Em recente post, o Sifu Nelson Ferreira comentou que aqueles que desejam aprender Kung Fu tradicional, deveriam gastar dinheiro indo para os EUA e não para a China. Eu mesmo comprovei isso na minha ida para a China em 2006/2007. Meu Sifu é uma das pessoas responsáveis pela retomada do Kung Fu tradicional na China.
            Já o Brasil ainda é um adolescente em relação a esses países. Não de modo pejorativo, pois temos muita condição de crescer, mas falta, mais uma vez, conhecimento profundo. Ainda estamos hoje voltados para um Kung Fu que é bonito, artístico mas um pouco vazio. Um velho dizer Hung Ga diz: “treinar Arte Marcial sem treinar Gong (meio de obter força), quando velho um vazio só”.
            Isso está mudando, pois quem quer aprofundar no Kung Fu tem muitas possibilidades através de mestres de qualidade que estão vindo para o nosso país. Esses mestres veem potencial tanto qualitativo quanto financeiro nos nossos artistas marciais. O mercado Norte Americano e Europeu já estão saturados e muitos mestres já deixaram o legado para seus discípulos.

QUAL SEU OBJETIVO EM PROL DO KUNG FU?
O primeiro passo é trabalhar para que o Kung Fu seja reconhecido como uma arte marcial efetiva. A sua beleza já é conhecida pelo público em geral. Para minha felicidade percebi que não estou sozinho nessa jornada, e fiz muitos amigos nas redes sociais por conta desse ideal.
Fico triste que outros praticantes acham que Kung Fu não é eficiente. Temos que parar de nos esconder atrás de vestimentas pomposas fazendo firulas, precisamos mostrar a profundidade de cada estilo de Kung Fu. E tratar ela como Arte Marcial mesmo. Com toda beleza e conhecimento intrínseco a ela.
Tenho a ambição de ser referência da minha arte marcial aqui no Brasil. Mas isso é consequência de treinar, pesquisar e estudar.

DEIXE UM RECADO AOS NOSSOS LEITORES:
Gosto de falar para que os praticantes amem a sua arte marcial. Não se apaixonem, pois a paixão é efêmera, passa. Amar é continuar gostando, apesar de algumas decepções e barreiras ao longo do caminho. Saber que o Kung Fu apesar disso vai te dar mais alegrias que decepções.
Aos aspirantes a professor, sejam justos e íntegros. Pois mais que isso possa te dar um prejuízo momentâneo, olhem sempre para o futuro e como seu nome estará na comunidade marcial. Não faça nada que não gostaria que fosse feito com você.

...e Arte Marcial uma Família!

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8 comentários:

  1. entrevista boa desse jovem professor, europa ate concordo mas EUA? é o maior celeiro de picaretas do kungfu, o que tem de mestre kung fu panda la esta cheio principalmente os que aprendem uma coisa e dizem que ensinam outra

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Como em todo Lugar há bons e maus profissionais. Estou me referindo a quantidade de bons sifus. Isso Se deve pela imigração chinesa para os EUA que levou a bons mestres TRADICIONAIS a ensinarem por lá já que não poderiam passar a sua tradição na china continental pela 1a fase maoista. Eles deixaram muito bons discípulos por lá. Como tudo que cresce sempre há uma deturpação, como em qualquer arte marcial.

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  2. Olá queridos,por pouco tempo fui aluno do Alex Lo, e nesse meio tempo aprendi diversos detalhes que ele fazia questão que eu aperfeiçoasse.Ficava irritado com tanto detalhe,porém,trago essas informações até hoje em outro estilo de Kung Fu (Louva-a-deus)que fazem com meu treino se torne um diferencial. Agradeço a todos momento aprendidos com esse, que pra mim, foi e é um grande Mestre.
    Mirval

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  3. Parabéns pela excelente entrevista, madura, consciente. Sifu Alex mostra uma grande paixão pelo Kung Fu, e sua trajetória é uma amostra de como este processo do viver marcial é sofrido e, ao mesmo tempo, gratificante. A principal procura deve ser por um mestre que domine não apenas um cojunto de técnicas, mas que encare seu conhecimento como um legado a ser preservado. Desejo sucesso ao entrevistado e sua escola.

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    1. Obrigado Sifu Marcos. Você é uma das pessoas que tive em mente quando falo em pessoas que estão comigo na jornada para tornar visível o Kung Fu EFETIVO e Prático.
      Boa sorte para todos nós e parabéns pelo seu trabalho. Sei que também é um trabalho sofrido e gratificante.

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  4. Somente verdadeiros mestres podem fazer com que uma pessoa que não gostava de arte marcial e nem mesmo de esportes passem a fazer com que essas coisas passem a ser fundamentais em sua vida. Por isso as palavras de quem entende “Uma vez seu mestre, sempre será seu mestre”. Parabéns pela entrevista.

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  5. hoje muito sifu por ai, muito propaganda, muito fala-fala, muito pancada e poco kung-fu. tem que ir china, templo e treinar com mestre verdade ai sim saber kung-fu, saber alma kung-fu.

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